A criação de vínculos afetivos é parte indispensável no desenvolvimento dos seres humanos. A vida só começa a fazer sentido para as pessoas quando é formado um laço afetuoso e de importância entre os indivíduos. As relações de afeto, principalmente as familiares, são tão essenciais que servem como gancho para diferentes estudos, como é o caso do “From Best Practices to Breakthrough Impacts”, Center on the Developing Children (Centro de Desenvolvimento Infantil), da Universidade de Harvard.
A pesquisa mostrou que a arquitetura do cérebro em desenvolvimento recebe grande influência das relações e experiências vivenciadas pelo indivíduo. Diante disso, chegou-se à conclusão de que vínculos com afeto, que contam com adultos presentes, resultam em um desenvolvimento cerebral mais estruturado nas crianças.
A aproximação do pai
Quando se fala de relação familiar, a mais evidenciada costuma ser entre mãe e filho. No entanto, pesquisas apontam que o colo de pai é igualmente importante, apesar de diferente. “O homem, quando tem um bebê nos braços, ele está tomando a si mesmo. Ele olha para esse bebê e, sem que perceba, está se dando colo. Desse modo, ele está trazendo do seu inconsciente, das memórias mais antigas, do seu corpo e da sua alma, a certeza de que merece ser amparado. Por conta disso, ampara esse bebê”, explica o psicólogo, Dr. Alexandre Coimbra.
Enquanto a mãe passa nove meses carregando o filho em seu útero – o que pode proporcionar a ele um conforto semelhante ao do colo, o pai vai ter o primeiro contato físico com o bebê no momento do parto. É a partir daí que poderá estabelecer trocas e contato com seu filho. Ou seja, a participação da figura paterna no momento do nascimento contribui para a criação de laços entre ambos, o que levará a uma maior proximidade com a criança nos primeiros momentos de sua vida.
Normalmente, o pai só se sente livre para expressar seus sentimentos após se certificar que mãe e filho estão bem. Só depois disso que ele deixará a tensão de lado para sentir euforia diante da paternidade. Ao longo do envolvimento no ato de cuidar e dar colo para essa criança, o pai encontra seu papel na família. Aém disso, ele fortalece o vínculo com o bebê – minimizando, assim, o sentimento de exclusão que costuma sentir logo após o parto.
Relações de afeito: a teoria do apego
Estabelecer a relação entre pai e filho é essencial para o ser humano. Essa ideia é base para a chamada Teoria do Apego, formulada pelo psiquiatra e psicanalista John Bowlby.
Para o Dr. Coimbra, a teoria de Bowlby é essencial para entender a relação entre pais e filhos e, principalmente, como o ato de dar colo pode ser transformador para crianças e adultos. “Essa vinculação, esse laço [descrito por Bowlby], que a gente constrói é o que nos dá a sensação de que é possível estar vivo. A gente tem a segurança de que, quando estamos angustiados, podemos procurar essas pessoas. Podemos procurar diversos tipos de colo”, afirma.
Dr. Coimbra ressalta a importância de frisar que esse colo não precisa ser, necessariamente, entre pais e filhos. “A gente dá colo para um bebê, mas também damos colo para uma criança ou para um adulto. Um orientador de mestrado ou doutorado pode dar colo ao seu orientando, por exemplo”, afirma, referindo-se ao amparo que esta figura dá ao esclarecer dúvidas e dar dicas.
Relações de afeto entre pais e filhos
Ao se referir especificamente da relação entre pais e filhos, Bowlby reforça que, ao criar uma base sólida de afeto e confiança com os filhos, os pais possibilitam à criança e ao adolescente explorar o mundo exterior com a certeza de que podem retornar para o conforto físico e emocional de seus provedores, caso ocorra algum sofrimento ou ameaça. Ao longo do tempo, a consequência deste apego é a construção de um sentimento de segurança em relação a si mesmos e aos outros integrantes de seu círculo social.
Para a psicanalista e diretora do Instituto Gerar, Dra. Vera Iaconelli, dar colo não é apenas importante ou necessário para a constituição subjetiva e para a saúde mental. A falta do colo pode prejudicar o desenvolvimento como um todo da criança, gerando distúrbios psíquicos, com consequências nas demais fases da vida. Isto porque o colo é uma das primeiras formas de interação da criança com outro ser humano, que diferentemente dos outros mamíferos, precisa do contato físico e emocional para se humanizar. Esse processo passa pelo ato de ser segurado e manuseado, de ouvir e ser ouvido, de sentir o cheiro das pessoas à volta, de olhar e ser visto. “Considero o afeto e o acolhimento da família e dos amigos tão importantes quanto os tratamentos e medicamentos adotados para o processo de cura”, conclui.
Foto: Shutterstock
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