Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses. Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. Inédita na história dos conselhos de farmácia, a pesquisa investigou o comportamento dos brasileiros em relação à compra e ao uso de medicamentos. A pesquisa servirá para subsidiar uma campanha nacional de conscientização, em comemoração ao dia 05 de maio, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos.
De acordo com o estudo existe ainda uma modalidade diferente de automedicação, a partir de medicamentos prescritos. Nesse caso, a pessoa passou pelo profissional da saúde, tem um diagnóstico, recebeu uma receita, mas não usa o medicamento conforme orientado, alterando a dose receitada. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados (57%), especialmente homens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%). A principal alteração na posologia foi a redução da dose de pelo menos um dos medicamentos prescritos (37%). Assim, o principal motivo alegado foi a sensação de que “o medicamento fez mal” ou “a doença já estava controlada”. Para 17%, o motivo que justificou a atitude foi o custo do medicamento.
Fontes buscadas para realizar a automedicação
Além disso, foi observado que 22% dos entrevistados que utilizaram medicamentos nos últimos seis meses tiveram dúvidas. Dentre elas, as principais foram em relação à dose (volume e tempo) e a alguma contraindicação contida na bula. O mais grave é que cerca de um terço dos entrevistados não procurou esclarecer as dúvidas e a maioria parou de usar o medicamento. Depois do médico, a internet e a bula são as principais fontes de informação para sanar dúvidas. Os farmacêuticos (que prescreveram ou dispensaram o medicamento) foram a quarta fonte mais consultada, tendo sido citados por 6% dos entrevistados.
Ainda em relação ao uso de medicamentos sem prescrição, a frequência da automedicação é maior entre o público feminino. Assim, mais da metade das entrevistadas (53%) informou utilizar medicamento por conta própria, pelo menos uma vez ao mês. Os mais conscientes em relação à importância de se orientar com um profissional da saúde antes de usar qualquer medicamento são os moradores da região Sul do País. Na região, 29% dos entrevistados declaram não utilizar medicamentos por conta própria, sem prescrição. A maioria das pessoas entrevistadas afirmou que se automedica quando já usou o mesmo medicamento antes (61%). A facilidade de acesso ao medicamento foi outro fator determinante, principalmente entre o público jovem (70%).
Familiares, amigos e vizinhos foram citados como os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição (25%). Embora, 21% dos entrevistados tenham citado as farmácias como a segunda fonte de informação e indicação. “Vamos trabalhar para que a população entenda que ela tem ao seu alcance, nas farmácias, um profissional da saúde especialista em medicamentos, que é o farmacêutico. Muita gente não sabe, mas o farmacêutico pode inclusive prescrever os medicamentos isentos de prescrição (MIPs). Afinal, é sempre mais seguro contar com o auxílio desses profissionais do que utilizar medicamentos por conta própria”, comenta o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.
Medicamentos mais usados na automedicação
Além disso, por meio da pesquisa foram identificados os medicamentos mais utilizados pelos brasileiros nos últimos seis meses. É surpreendente o alto índice de utilização de antibióticos (42%), somente superado pelo porcentual declarado para analgésicos e antitérmicos (50%). Em terceiro lugar ficaram os relaxantes musculares (24%). O uso de antibióticos foi maior nas regiões Centro-Oeste e Norte (50%). Os medicamentos utilizados nos últimos seis meses com prescrição, em sua maioria, foram indicados pelos médicos (69%). Porém, a prescrição farmacêutica, regulada pelo CFF em 2013, pela Resolução/CFF n° 586/2013, foi citada por 5% dos entrevistados.
Aquisição dos medicamentos para a automedicação
A maioria dos brasileiros (88%) compra os medicamentos que utiliza, sendo que 30% consegue esses produtos na rede pública. Outras maneiras citadas foram o uso de amostras grátis ou doações. A obtenção de medicamentos na rede pública é maior entre pessoas com mais de 60 anos (50%) e entre moradores da região Sul (41%). Dessa forma, com exceção dos medicamentos para diabetes (insulina, hipoglicemiantes orais), é mais comum a compra dos demais.
Descarte dos medicamentos usados na automedicação
Além disso, a pesquisa apurou qual a forma mais usual de descarte dos medicamentos que sobram ou vencem. Assim, 76% dos entrevistados indicaram maneiras incorretas para a destinação final desses resíduos. Pelos resultados da pesquisa, a maioria da população descarta sobras de medicamentos ou medicamentos vencidos no lixo comum. Quase 10% afirmaram que jogam os restos no esgoto doméstico (pias, vasos sanitários e tanque).
Metodologia utilizada na pesquisa
A pesquisa quantitativa foi realizada com a população brasileira a partir de 16 anos de idade que utilizou medicamentos nos últimos seis meses. A coleta de dados foi feita pelo Datafolha, entre os dias 13 e 20 de março de 2019. Dessa forma, com uma amostra de mais de duas mil pessoas, o estudo teve abrangência nacional. A pesquisa incluiu capitais/regiões metropolitanas e cidades do Interior, de diferentes portes, em todas as regiões do Brasil.
Foto: Shutterstock
Fonte: CFF
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