O texto a seguir foi escrito na tumba de um bispo anglicano, que viveu em 1100 d.C., nas criptas da abadia de Westminster na Inglaterra. Sua mensagem reflete perfeitamente o tema que iremos abordar neste artigo.
“Quando era jovem e livre, e minha imaginação não tinha limites, eu sonhava em mudar o mundo.
Ao amadurecer, descobri que o mundo não mudaria. Restringi então minhas ambições e decidi mudar apenas meu País, mas ele também parecia imutável.
No ocaso de meus anos, numa última e desesperada tentativa, resignei-me a mudar apenas minha família… aqueles próximos de mim, mas, infelizmente, eles não quiseram saber.
“O tempo é limitado, então não gastes seu tempo vivendo a vida de outro. Não fiques preso no dogma que é viver como os outros pensam que deverias viver. Não deixe que as opiniões dos outros calem sua voz interior. E o mais importante, tenha coragem para fazer aquilo que manda seu coração e intuição”
Steve Jobs
Agora, no meu leito de morte, percebo: se houvesse começado por mudar a mim mesmo, talvez, pelo meu exemplo, mudasse minha família.
Com a sua inspiração e incentivo, eu poderia então ter melhorado meu País e, quem sabe, talvez até transformado o mundo.”
Reconhecer e valorizar a importância das pessoas que nos cercam é um dos atributos mais importantes para quem quer ser um líder visionário. Tão certo como o nascer do sol a cada dia, é o fato de que nenhum líder é capaz de vencer todas as batalhas se não puder contar com um exército competente e comprometido com seus ideais. Líderes consagrados gostam de gente, porque sabem que é apenas a partir das pessoas que podem alcançar seus próprios objetivos.
O renomado escritor e ator italiano Luciano de Crescenzo nos brinda com sua sabedoria ao afirmar: “Somos todos anjos com uma asa só, e só podemos voar quando abraçamos uns aos outros”. Não há, de fato, voo solo no contexto da liderança. Assim como “uma só andorinha não faz verão”, o líder solitário tem muito pouco, ou quase nada, a fazer para mudar as coisas à sua volta. Reconhecer e valorizar a importância das pessoas que nos cercam é um dos atributos mais importantes para quem quer ser um líder visionário. nenhum líder é capaz de vencer todas as batalhas se não puder contar com um exército competente
Mas é preciso ter em mente um aspecto fundamental. Para obter o apoio e, principalmente, o comprometimento das pessoas, é necessário, pelo menos em certa medida, ajudá-las a conseguir aquilo que desejam, uma afirmação que parece simples, mas que enseja uma convicção que é a base em que os líderes devem apoiar suas ações: quando ajudamos, com sinceridade, as pessoas a realizar seus sonhos, ou quando mostramos que ao realizarem os nossos sonhos estão, na verdade, realizando os seus próprios, elas estarão prontas para lutar ao nosso lado incondicionalmente. Portanto, não é heresia afirmar que boa parte do êxito de um líder visionário vem de sua capacidade de conhecer a necessidade das outras pessoas e, a partir de então, saber atendê-las.
Um erro fatal que alguns propensos líderes cometem nesse ponto é acreditar que os outros têm as necessidades idênticas às suas, ou então que é possível descobrir as necessidades das outras pessoas apenas observando-as. Infelizmente não é tão simples assim.
A sabedoria bíblica nos dá conta de que os homens são todos iguais perante Deus, o mesmo não se pode dizer do homem perante o homem. Apesar de ser submetidos a orientações e controles sociais semelhantes, os homens são diferentes entre si, em suas formas de se comportar diante dessas mesmas circunstâncias sociais. E essas diferenças existentes entre as pessoas decorrem de dois motivos básicos: primeiro, nascem diferentes uma vez que cada uma carrega sua própria bagagem hereditária. Segundo, ao longo de suas vidas, são submetidas a experiências únicas, que as marcam de forma indelével.
Imersão profunda
Como é possível conhecer tão bem as pessoas a ponto de compreender suas necessidades mais latentes? Será esta uma tarefa fácil? Infelizmente para os líderes, conhecer a dinâmica do comportamento humano é, certamente, um dos seus maiores desafios, uma tarefa extremamente complexa, para não dizer impossível.
O grande psicólogo francês Jean-Francois Chanlad ressalta a impossibilidade de vencer plenamente esse desafio ao afirmar: “… numerosos são os que, ainda hoje, fecham o ser humano em esquemas redutores e que, frequentemente, têm a impressão simplória de ter captado a essência do ser humano. A realidade humana que encontramos na organização não poderá jamais ser reduzida a tais esquemas.
Só uma concepção que procura apreender o ser humano na sua totalidade pode dele se aproximar, sem, contudo, jamais o esgotar completamente”. Apesar de esclarecedora, a afirmação de Chanlad enfatiza um lado obscuro da questão: como liderar diante da impossibilidade de conhecer plenamente a natureza dos liderados?
Embora não exista uma resposta definitiva para a questão, estudos no campo da psicologia denotam a importância do autoconhecimento. Assim, o líder visionário destaca-se por conhecer a si mesmo, se não plenamente – o que parece ser impossível – pelo menos em grande parte. A introspecção faz parte do seu dia a dia, porque entende a importância de compreender os motivos que o movem, os fatores que o satisfazem, assim como os estigmas que o esmorecem.
Reflete constantemente sobre suas fraquezas e potencialidades, suas alegrias e angústias, porque entende que elas são os orientadores da sua visão e, consequentemente, de suas ações. Entende que “boa” não é, necessariamente, aquela pessoa que se parece com ele porque tem os mesmos estilos motivacionais, assim como, também, não discrimina os que pensam de maneira diferente ou os que adotam linhas de comportamento diferente da sua. Tem bom conhecimento do seu “eu” interior, o que lhe permite compreender melhor o comportamento motivacional das outras pessoas.Um dos principais motivos pelo qual algumas pessoas que detêm o poder estão sempre em desarmonia com seus subordinados é que suas motivações são diferentes
Autoconhecimento São preciosas as palavras do Dr. Konrad Lorenz, prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1973: “É impossível a um ser, que não saiba da existência do próprio eu, desenvolver um pensamento abstrato, uma linguagem ou uma consciência ou ainda uma moral responsável. O homem que cessa de refletir corre o risco de perder todas as qualidades e realizações especificamente humanas”. Mais adiante, ele complementa: “… é notória a incapacidade do homem moderno de ficar só consigo mesmo, ainda que por um curto espaço de tempo. Qualquer possibilidade de reflexão e introspecção é evitada com temeroso cuidado, como se existisse um medo de que a reflexão pudesse descobrir um horrível autorretrato…”.
Conforme afirma o Dr. Lorenz, a maioria das pessoas acha desnecessário investir algum tempo para refletir sobre si mesmo, porque acredita que tem pleno domínio sobre sua personalidade. Falando francamente, o que essas pessoas não percebem é que o parco conhecimento que possuem se restringe a uma pálida figura que aparece refletida no espelho toda manhã quando vão escovar os dentes, uma imagem que esconde, por traz da persona que se revela, seus sentimentos mais íntimos. Assim como é extremamente difícil conhecer a natureza das outras pessoas, conhecer a nossa própria natureza, ainda que apenas parte dela, é uma tarefa hercúlea. Mas o melhor caminho é, certamente, a reflexão introspectiva.
Momento de reflexão
• Quanto tempo você investe pensando em suas potencialidades e nos aspectos que precisa realmente melhorar?
• Você costuma recriminar e/ou se afastar das pessoas que possuem posições diferentes da sua, ou para você, essas pessoas devem sempre ser ouvidas, pois fazem enxergar caminhos alternativos?
• Que espaço você dá aos seus liderados para que possam livremente expressar suas opiniões, ainda que diametralmente diferentes da sua?
Observação: converse francamente com as pessoas com as quais você se relaciona frequentemente e veja se elas concordam com suas respostas.
Note que se não sabemos nada a nosso próprio respeito, então como podemos entender as pessoas que fazem parte da nossa vida, seja ela profissional ou pessoal. Por isso, o líder visionário, antes de tentar compreender as pessoas, caminha sempre na direção de entender o seu próprio comportamento. Somente a partir do momento em que ele admite suas próprias imperfeições, é que passa a compreender e aceitar as limitações dos outros.
Apenas quando descobre que alguns de seus gostos e costumes não são comuns a todas as pessoas, é que reconhece o direto que todos têm de possuir suas próprias excentricidades. Somente quando percebe que seus momentos de felicidade se diferenciam do conceito que a êxtase possui para outras pessoas, é que ele entende que nem tudo o que é “bom” para ele tem de satisfazer àqueles que estão ao seu lado. Compreende, finalmente, que as motivações das outras pessoas podem ser diferentes das suas porque somos seres humanos, por natureza, seres diferentes.
Comportamentos únicos
Um dos principais motivos pelo qual algumas pessoas que detêm o poder estão sempre em desarmonia com seus subordinados é que suas motivações são diferentes. Embora isso sempre faça parte do impasse que contrasta os vários estilos de comportamento, o líder visionário consegue lidar bem com o problema porque pergunta sobre o sonho dos liderados, procurando compreendê-los à luz dos seus próprios sonhos. Assim, quando finalmente descobre os sonhos dessas pessoas e, principalmente os entende, ele sempre encontra um caminho que todos terão prazer em trilhar.
Finalmente, podemos retornar ao início deste artigo para analisar de forma mais balizada a essência do texto que o encabeça. Sua mensagem parece clara: se você quer mudar o mundo, comece por mudar a você mesmo. Antes, porém, lembre-se de conhecer a fundo quem você é realmente. Os líderes visionários sabem que esse é o melhor caminho.
Autor: Jorge Bertolino Filho
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