Especialistas em gestão são unânimes em afirmar que a comunicação é um requisito fundamental para o sucesso dos negócios. Por esse motivo, a maior parte das pessoas acredita que bons líderes são, em sua essência, bons comunicadores. De fato, a comunicação é uma arma poderosa, que nas mãos certas pode contribuir para a obtenção de resultados fantásticos.
Então isso significa que, para ser um líder eficaz, basta dominar a arte de falar bem em público? Certamente, não! Se apenas um bom discurso fosse suficiente para mover as pessoas na direção desejada, então seria muito fácil ser um líder. E ainda pior, seria muito fácil manipular as pessoas para interesses pessoais.
Felizmente, o líder vai muito além do discurso em prol de seus ideais. O líder visionário se faz pelas ações e não pelas palavras. Antes, porém, de discutirmos essa questão, precisamos compreender um pouco mais sobre alguns conceitos teóricos.
Segundo o professor Izidoro Blikstein, uma das maiores autoridades no assunto, “comunicação é um processo de transmissão de ideias que utiliza os mais variados tipos de ferramentas visando obter respostas”. Respostas, nesse caso, são os objetivos que o remetente (comunicador) tem em mente antes de iniciar o processo de comunicação. A boa comunicação é, portanto, aquela que estimula o destinatário (ouvinte) a se movimentar na direção desejada. Assim, podemos afirmar que a comunicação é eficaz quando os objetivos idealizados antes do início do processo são alcançados.
É claro que existem muitos líderes que possuem o “dom da palavra”. São pessoas que sabem falar bem, que se expressam com desenvoltura e, por isso, conseguem envolver seus ouvintes. Não há como desconsiderar o fato de que pessoas com tais habilidades são, em alguma dimensão, diferenciadas. Em regra, para esses indivíduos, é muito mais fácil agregar outras pessoas em torno daquilo que desejam obter.
A boa notícia, no entanto, é que, para ser um líder comunicativo, não precisamos saber fazer bons discursos, até mesmo porque as pessoas são muito mais atentas àquilo que vêm do que àquilo que ouvem. Em linhas gerais, estamos afirmando que ter o poder da comunicação é sim cooptar as pessoas para os nossos objetivos, mas isto não precisa acontecer apenas por meio de retóricas brilhantes. Caminhos da comunicação
Existem duas formas de nos comunicarmos. A primeira é a verbal, que ocorre por meio da comunicação escrita ou falada. Trata-se de um tipo de comunicação que aprendemos desde o nascimento e, portanto, muito presente em nossas vidas. Seja em uma conversa informal com um amigo ou em uma reunião de trabalho com muitas pessoas, seja escrevendo um e-mail ou ainda gravando uma mensagem de voz no WhatsApp, estamos o tempo todo utilizando a comunicação verbal como forma de transmitir ideias e pensamentos.
Mas há outro tipo de comunicação, denominada não verbal, que acontece por meio da nossa linguagem corporal, tais como expressões faciais, gestos, maneira de olhar, maneira de se vestir, tom de voz, entonações, etc. A comunicação não verbal inclui também a utilização de desenhos, imagens, sons, cheiros, cores, sabores, texturas, símbolos, etc. De modo geral, ela é muito mais intensa do que a comunicação verbal, pois se aproveita dos cinco sentidos para se comunicar.
Os profissionais de marketing entendem muito bem o poder desse tipo de comunicação. Você já viu alguma propaganda de cerveja em que a tulipa não apareça suada, ou ainda uma propaganda de café que não tenha “fumacinha” saindo da xícara? Pois é, esses recursos fantásticos, que ajudam a valorizar aquilo que está sendo exposto ao público consumidor, são baseados na comunicação não verbal. Observe atentamente uma pessoa falando. Note como ela movimenta os braços e como externa suas emoções por meio de sua entonação de voz. Fique atento a todos os seus movimentos e gestos. Perceba os movimentos de suas mãos e, principalmente, de suas expressões faciais. Notadamente, quando a pessoa não é verdadeira, suas palavras não estarão em harmonia com o que o seu corpo comunica, ou seja, quando uma pessoa não acredita veementemente em seus propósitos, sua comunicação não verbal vai estar em desacordo com suas palavras.
Note, portanto, que a comunicação eficaz é muito mais do que simplesmente fazer um belo discurso ou proferir palavras bonitas para convencer as pessoas. Comunicação vai muito além, pois abrange uma série de recursos a partir da qual é possível transmitir aquilo que efetivamente queremos expressar.
Embora seja verdade que muitos líderes têm facilidade em se comunicar publicamente, não é verdade que todo líder precisa saber falar com absoluta desenvoltura. De fato, há muitos líderes que sabem se expressar com competência quando estão diante de um grande público. Esse é um diferencial que em determinadas circunstâncias pode ajudar.
Mas há os que não possuem essa competência, pelo contrário, quando estão diante de uma plateia sentem-se inibidos. Mas nem por isso deixam de ser líderes, porque conseguem contornar suas dificuldades utilizando outras formas para transmitir aquilo que desejam. Em regra, utilizam-se da comunicação não verbal.
Warren Bennis e Burt Nanus, dois dos maiores especialistas em liderança no mundo, assim se expressam acerca desse aspecto: “Apesar das variações de estilo – quer seja verbal ou não, quer por meio da música ou de palavras –, todo líder de sucesso está consciente de que uma organização se baseia em um conjunto de significados partilhados que definem papéis e autoridade. Ele ou ela também está consciente de que uma responsabilidade-chave é comunicar o ‘esquema’ que molda e interpreta situações, de modo que as ações dos empregados sejam guiadas por interpretações comuns da realidade”.• Como você enxerga seu processo de comunicação? Você acredita que consegue transmitir com clareza tudo aquilo que deseja obter para sua organização?
• E do ponto de vista dos seus liderados: você se preocupa em mostrar o que todos têm a ganhar se todas as metas forem atingidas?
• Você já pensou em ter uma conversa franca, honesta e absolutamente aberta com seus liderados a respeito da comunicação da empresa?
Observação: as falhas de comunicação aparecem na grande maioria das pesquisas de Clima Organizacional como um dos principais fatores de desmotivação da força de trabalho. Portanto, não acredite que tudo está bem. Converse com as pessoas, abra sua mente e principalmente seu coração. É isso que fazem os líderes visionários.
O que se conclui é que os líderes precisam se comunicar, principalmente no sentido de criar significados na vida das pessoas. Precisam deixar claro o caminho que escolheram para ser trilhado e, em seguida, cooptar as pessoas para que todos percorram esse caminho. Mas essa tarefa não precisa ser feita a partir de um lindo discurso. Muitos líderes fazem isso sem dizer uma única palavra. Conseguem passar o que sentem ou o que desejam por intermédio de suas ações. Na verdade, as ações são muito mais consistentes do que as palavras. Assim como a criança que observa muito mais as atitudes do pai do que àquilo que ele ensina, os liderados também estão muito mais atentos ao que o líder faz do que ao que efetivamente fala.
Consciência notável
O líder visionário, portanto, sabe que, quando deseja algo, precisa mostrar a importância que aquilo tem para as pessoas. E é exatamente isso que ele faz, ele envolve seus liderados, não necessariamente com palavras, mas especialmente com atitudes e ações. Sabe como transmitir aquilo que realmente deseja, mesmo que seja contando uma história, desenhando uma bela paisagem, construindo esquemas ou gráficos, cantando ou fazendo com que todos ouçam uma música, escrevendo ou declamando uma poesia ou, até mesmo, expressando-se por meio de metáforas. Não importa os recursos de que ele se utiliza, seu processo de comunicação tem a capacidade de envolver as pessoas.
O líder visionário sabe que a comunicação ocorre por meio dos sentidos, mas, além disso, sabe como estimular cada um deles. Um som, um sabor ou um cheiro podem ser armas eficientes na hora de se comunicar alguma coisa importante. O toque carinhoso nos ombros de uma pessoa como forma de agradecimento por uma grande conquista pode expressar um significado muito maior do que qualquer palavra.
Mas não é somente para passar um comunicado adiante ou transmitir uma ideia que o líder deve utilizar a comunicação. Tão importante quanto essas funções é o processo de feedback que a comunicação proporciona. As pessoas precisam saber o que a empresa espera delas e, ao mesmo tempo, o que podem esperar da empresa. Realimentá-las, sobre sua atuação profissional, é um dos papéis que o líder visionário sabe exercer com maestria.
Elogiar alguém por um trabalho benfeito pode parecer uma tarefa fácil – apesar de nem sempre ser assim. Mas muito mais complicado, sem dúvida, é mostrar para alguém da equipe, com quem se convive dia a dia, os aspectos em que ele necessita evoluir. Esse é, sem dúvida, o maior e mais importante objetivo do feedback.
Daniel Goleman, escritor, psicólogo e consultor americano, conhecido em todo o mundo pela relevância de seus trabalhos na área da Inteligência Emocional, assim se expressa acerca da importância do feedback: “Numa empresa, todos fazem parte de um sistema e, neste caso, o feedback é a possibilidade de evitar a entropia – a troca de informação permite que as pessoas saibam que seus respectivos trabalhos estão sendo bem executados, que precisam aprimorá-los, melhorar ou reformular totalmente. Sem feedback, as pessoas ficam no escuro; não têm ideia da avaliação que o líder faz de seu trabalho, com os colegas, ou o que é esperado delas, e qualquer problema que eventualmente exista só tende a se agravar com o passar do tempo. Num certo sentido, a crítica é uma das mais importantes tarefas de um administrador. […] Também a eficiência, satisfação e produtividade das pessoas no trabalho dependem de como lhes são transmitidos os problemas incômodos. Na verdade, a maneira como são feitas e como são recebidas as críticas diz muito sobre até onde as pessoas estão satisfeitas com seu trabalho, com os que trabalham com elas e com a liderança”.
Confiança entre as partes
Finalmente, faz-se necessário realçar novamente a importância da credibilidade no processo de liderança. Ao líder, não basta comunicar, é preciso ser autêntico, ético, transparente, justo e, principalmente, verdadeiro em sua comunicação. A lógica nos diz que se existem líderes, é porque existem liderados. Então a grande questão que fica é: por que alguém seguiria o caminho indicado por outra pessoa ao invés de definir e trilhar o seu próprio caminho? Notadamente porque o líder sabe indicar um caminho que vale a pena ser percorrido além de ser hábil em idealizar o que as pessoas podem encontrar ao seu final. Mas não é só isso. As pessoas não seguem líderes em quem não confiam. Aliás, se não houver confiança, nem se pode dizer que existe liderança, porque, a bem da verdade, a liderança só existe no coração daqueles que confiam e, portanto, nela acreditam.
Falando francamente, sabe-se que há falsos líderes. De caráter duvidoso, mas detentores do “dom da palavra”, utilizam esta habilidade como engodo. Por meio de discursos grandiosos, traçam cenários mirabolantes e prometem “mundos e fundos”, muito mais do que realmente podem cumprir. São internamente inconsistentes e vazios, mas convincentes em suas oratórias. No entanto, para nosso regozijo, eles não duram muito.
Um líder pode enganar seus liderados, mas certamente não será por muito tempo. Vale lembrar que as ações de um líder visionário devem falar mais alto do que suas palavras. O líder pode usar uma bela retórica, mas se não for verdadeiro em suas ações e, principalmente, se estas não estiverem em sintonia com suas promessas discursivas, ele certamente não se tornará um líder longevo. É apenas questão de tempo – basta esperar para ver sua máscara cair.
Por Jorge Bertolino Filho
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