Lançado no Brasil este ano, o Vitrakvi® (Larotrectinibe) é o primeiro medicamento aprovado no País seguindo o conceito de indicação “tratamento tumor agnóstico”. No conceito o tumor é classificado e tratado de acordo com uma característica molecular específica. Desse modo, não tendo como base apenas o tecido que deu origem ao câncer. Essa mudança na estratégia de tratamento do câncer representa um importante avanço no campo da Medicina de Precisão. O Brasil é o segundo País no mundo a receber a nova droga, aprovada recentemente na Europa.
O medicamento é o primeiro que se baseia em um biomarcador comum encontrado em vários tipos de câncer a ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É destinado a pacientes com tumores sólidos em estágio avançado ou localmente avançado que possuem fusão de gene NTRK, um híbrido de dois genes que pode causar o crescimento descontrolado das células. Tumores de tireoide, pulmão, cabeça e pescoço, entre outros, podem ser causados por essa falha, tendo sido descrita até o momento em mais de 20 tipos de cânceres.
Medicamento contra tumores: fusão TRK
O câncer com fusão TRK é resultado de uma fusão anormal de dois genes, um deles o gene NTRK e outro não relacionado, que leva à criação de uma proteína de fusão TRK. “As proteínas de fusão TRK são conhecidas por causar o crescimento celular em múltiplos tipos de tumores tanto em adultos como crianças. Elas são consideradas drivers tumorais, principais gatilhos para o aparecimento, crescimento e manutenção do tumor”. Assim, explica o oncologista do Hospital Sírio Libanês, Fernando Santini.
“Bloquear os gatilhos da doença desses pacientes é uma virada de jogo. Assim, criando uma mudança de paradigma no tratamento do câncer, com resultados importantes na redução do tamanho do tumor, aumento do controle de doença e sobrevida do paciente”, complementa.
Aprovação da Anvisa
A Anvisa aprovou o uso do medicamento contra 20 tumores tanto para adultos quanto pediátrico — mesmo que geralmente o processo de liberação seja muito mais demorado para o tratamento de câncer infantil. Diferente da quimioterapia citotóxica endovenosa convencional, o uso Vitrakvi® (Larotrectinibe) é oral. Desse modo, ele age nas células que contém a alteração molecular específica e seus efeitos adversos são geralmente leves e infrequentes.
Para saberem se são elegíveis a esse novo tratamento, os pacientes precisam se submeter a um teste genético das células do tumor. Desse modo, o teste procura pela fusão de gene NTRK no DNA. A alteração ocorre em menos de 1% dos tipos de tumor sólido. Porém, é mais comum em casos como o câncer de tireoide em adultos (12% dos casos) e o fibrossarcoma infantil (em quase 100% dos casos). Até hoje, a medicina contava com medicações contra o câncer que atingem alvos específicos. Porém, o Larotrectinibe é o primeiro a agir sobre um alvo único comum a diversos tipos de tumores. Este é seu grande diferencial e também o motivo pelo qual ele representa a evolução da medicina de precisão.
Medicina de precisão
A medicina de precisão é a personalização do tratamento médico de acordo com as características individuais do paciente, incluindo sua constituição genética. Ela tem despertado grande entusiasmo na comunidade médica, em especial entre os oncologistas. O conceito, usado de maneira precursora na área da oncologia e atualmente expandido para outras especialidades, pautará o futuro dos tratamentos pelos benefícios que oferece aos pacientes, bem como aos sistemas de saúde. Isso sem falar que, quanto mais conhecidas forem as características da doença, maiores as chances de sucesso no tratamento.
Com medicamentos mais certeiros e focados apenas nas células doentes, a expectativa é que em poucos anos o câncer passe a ser uma doença mais controlável, assim como as doenças crônicas. “A medicina de precisão será o tratamento mais comum para o câncer no futuro e os novos tratamentos já apontam para essa efetividade”, acredita Santini. “Daqui dez anos, será inconcebível cuidar de pacientes com câncer sem tentar entender sua conformação genética”.
Medicamento contra tumores
Para o registro do medicamento contra 20 tipos de tumores pela Anvisa e pelo Food and Drug Administration (FDA), a Bayer demonstrou que a eficácia do medicamento foi analisada em 55 pacientes derivados de três ensaios clínicos em andamento com crianças e adultos virgens de tratamento ou mesmo com vários tratamentos anteriores. Os pacientes apresentaram uma taxa de resposta de 75% para diferentes tipos de tumores sólidos, com ausência de progressão da doença por seis meses em 73% dos casos, e em um ano ou mais em 55% dos casos.
Esses estudos que embasaram a aprovação tiveram seus dados atualizados apresentados no Congresso Europeu 2019. Eles demonstraram taxa de mais de 28 meses de tempo mediano para progressão da doença e mais de 44 meses de sobrevida global, em média, para os pacientes que usaram Larotrectinibe.
Para o diretor da área de oncologia da Bayer Brasil, Rodolfo Ferreira, o lançamento de Vitrakvi® no Brasil, é um marco para a Companhia. “Estamos cada vez mais focados em trazer opções terapêuticas para cânceres de difícil tratamento. Fizemos um grande esforço para lançar Larotrectinibe no País”, explica. “Esse é o primeiro dentre importantes lançamentos previstos para os próximos anos. Isso porque temos pesquisas já em estágio avançado para dar uma nova esperança de tratamento para milhares de pessoas que sofrem com essa doença”.
Foto: Shutterstock
Não se automedique, consulte um profissional de saúde.
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