As consequências de se ter custos que sobem segundo a inflação e reajustes que não seguem a mesma proporção são muitas. “Na teoria, a prática de projetar uma produtividade alta é forçar o setor a buscar maior eficiência, a produzir com custo menor e repassar isto para o consumidor. Na prática, o que acontece é que existe um limite. Não se consegue reduzir custo por 15 anos seguidos”, opina o diretor da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Pedro Bernardo.
Segundo ele, a indústria já faz o possível em termos de diminuição de gastos, repassando esse esforço ao consumidor por meio de descontos. Porém, alguns deles devem ser temporários, já que dependem de fatores externos, como custo de matérias-primas, reajustes feitos pelos fornecedores, aumento da energia elétrica, variação do câmbio, entre outros.
“Com essa pressão, cada vez fica mais difícil oferecer esse desconto. São mais de 20 mil apresentações de nove mil produtos. Cada um tem uma situação diferente”, explica Bernardo.
Já o presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, é um pouco mais otimista.
“Nos últimos dez anos, o aumento foi abaixo da inflação, com exceção de 2016, e os descontos têm aumentado cada vez mais. Mas é óbvio que reajustar abaixo da inflação não é bom para o setor, porque você não consegue recompor os custos. Afeta não só a parte produtiva, como a capacidade de investir. Vai se perdendo rentabilidade”, pondera.
Alguns críticos da indústria farmacêutica dizem que a indústria consegue manter altos percentuais de descontos, ainda que com a crise e reajustes abaixo da inflação, por causa das margens de lucro muito altas.
Bernardo rebate: “As farmácias colocam avisos de descontos de 70%, por exemplo, mas é somente em alguns produtos. Muitos acham que tudo está com desconto. As pessoas usam a exceção para criar regra, mas a verdade é que, ao mesmo tempo em que é possível conceder desconto em certo produto, outros nem cobrem seus custos”.
Polêmicas à parte, ao varejista, só resta se preparar para o reajuste anual. “Para quem tem um fluxo de caixa adequado, o ideal é fazer um estoque um pouco maior antes desse período, mas não é necessário nenhuma mudança excepcional”, finaliza Tamascia.
Por: Flávia Corbó
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