Sir Isaac Newton foi um cientista inglês, mais conhecido como físico e matemático, mas que também transitou pelas áreas da astronomia, filosofia e teologia. No século 17, ele revolucionou o mundo da mecânica clássica ao publicar sua obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, até hoje considerada um dos mais influentes tratados da história da ciência. Nesse trabalho, em que ele discorre sobre a “gravidade universal”, foram apresentadas três leis aplicáveis à mecânica, que passaram a ser mundialmente conhecidas como as Leis de Newton.
Newton é considerado o cientista que causou maior impacto na história da ciência. Mas nem sempre foi assim. Durante boa parte do tempo, em seus estudos primários, ele foi considerado um estudante mediano. De personalidade fechada, introspectiva e de temperamento difícil, Newton era visto como um aluno apagado, sem desempenho relevante. Certamente, naquela época, nenhum de seus professores apostaria muitas fichas em seu futuro.
Assim como Newton, outros tantos gênios tiveram seus momentos difíceis. Louis Braille, o homem que desenvolveu o código Braille, o sistema de escrita e leitura utilizado pelos deficientes visuais, pelo fato de ter ficado cego muito cedo, foi considerado um incapaz. Diziam que não havia nada de relevante que ele pudesse fazer na vida e que viveria o resto dela dependendo dos outros. Mas não foi isso que realmente aconteceu. Sua contribuição para a humanidade é inestimável.
Charles Darwin, um dos mais renomados naturalistas da história, homem que revolucionou a Teoria da Evolução a partir de seu trabalho A Origem das Espécies, nem sempre foi um aluno dedicado e estudioso. Quando cursava medicina, adorava faltar às aulas para caçar, coletar objetos e espécimes, cavalgar, sair com os amigos. No terceiro ano, ele resolveu encerrar seus estudos porque diziam que ele não tinha vocação para medicina. Nessa época, temendo que se tornasse um ocioso, seu pai ameaçou colocá-lo em um seminário. Hoje, sabemos como ele fez a diferença.
Qual é a lição que está nas entrelinhas dessas histórias? De modo geral, a de que não se pode avaliar uma pessoa a partir de uma visão limitada, quer seja no tempo ou no espaço. Pessoas diferentes dão respostas em tempos diferentes.
Algumas são extremamente vívidas e logo mostram ao que vieram. Outras demoram mais para aflorar, o que não significa que não tenham nada a oferecer. As primeiras são dinâmicas, e pela natureza proativa nos encantam. As outras apresentam resultados medianos, que não empolgam, por vezes até desanimam. Mas a história já mostrou, a exemplo dos gênios citados anteriormente, que mesmo pessoas aparentemente “pequenas” podem, com o tempo, apresentar resultados grandiosos. Muitas vezes, o que lhes falta é o estímulo inicial.
Fato concreto é que toda pessoa tem dentro de si o combustível que serve como alimento de seu entusiasmo e de sua paixão. Em maior ou menor proporção, somos motivados a lutar por uma boa causa. Ninguém, em sã consciência, quer ser um fracasso. Todos desejam ocupar um lugar de destaque na história. Em alguns casos, o que falta é a fagulha que dá início ao processo de combustão, responsável por liberar nossas energias. É nesse momento que entra, novamente, a figura do líder visionário.
Em busca das habilidades
Liderar com um time talentoso é certamente mais fácil, pelo menos em certos aspectos, do que liderar com pessoas comuns. Mas uma das fortes habilidades do líder visionário é saber extrair de todas as pessoas aquilo que elas têm de melhor. Ele sabe que todos têm a contribuir. Acredita nas pessoas e busca sempre pelo talento não manifesto, que se ainda não veio à tona, é simplesmente porque está adormecido. E não há ninguém como ele para despertar esses talentos.
Ele não vê pequenez nas pessoas porque seu olhar não é circunscrito. Ao contrário, ele as olha em sua plenitude. Sabe que não pode tirar conclusões a partir de fatos isolados porque corre o risco de ser injusto. Conhece bem o perigo de estereotipar as pessoas ao seu lado, caso sua avaliação se paute por momentos infortúnios.
Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil, é brilhante ao afirmar: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Assim como é impossível apreender totalmente um ambiente quando se olha pelo buraco da fechadura, julgar alguém por um ponto de vista é uma atitude mesquinha, para não dizer preconceituosa. O líder visionário jamais comete esse erro crasso.
Em função da própria natureza humana, ele sabe que todas as pessoas possuem pontos fortes e fracos.
Mas não é a fraqueza que determina seu foco. Suas atitudes nunca se apoiam na fragilidade de uma pessoa porque sabe que, agindo dessa forma, ele estará apenas contribuindo para torná-la ainda mais fraca e, consequentemente, pior. O líder visionário conhece bem o poder das ações positivas. Sabe que, para contribuir com o crescimento de uma pessoa, ele precisa focar suas atitudes exatamente naquilo que ela possui de mais significativo.
Quando um pai critica duramente o filho pelas notas ruins que obteve na escola, mas deixa de elogiá-lo quando o seu desempenho melhora, achando que neste caso é mera obrigação, ele não está contribuindo positivamente para a formação do filho. Assim, também, o líder que só age no sentido de criticar o liderado que não apresenta os resultados almejados, não está contribuindo para despertar a energia que pode fazer toda a diferença.
O líder visionário é, portanto, o mestre que ensina e educa. Aquele que, por suas atitudes positivas, consegue extrair o diamante que está oculto dentro da pedra bruta, ou mais precisamente, inspirar pessoas comuns para que se tornem especiais.
Segurança transmitida
Há, finalmente, um aspecto adicional a ser considerado. Não é possível estimular a criatividade das pessoas quando elas têm medo do fracasso, ou de outra forma, têm medo de errar porque temem pelas consequências. Para extrair o “lado bom” das pessoas, é preciso, além de tudo o que já foi discutido, criar um ambiente onde o erro não seja sinônimo de incompetência, onde errar é apenas um motivo para se buscar melhoria nos processos e não a chave que abre a temporada de “caça às bruxas”.
As pessoas precisam sentir que seu líder as apoia incondicionalmente e que, portanto, o erro oriundo do esforço legítimo nunca será visto como motivo para críticas ou, ainda pior, como ocorre em muitas organizações, motivo para a eliminação sumária do suposto “culpado”.
Quando uma pessoa erra porque tentou, ela não pode ser simplesmente condenada. O líder visionário é aquele que, sem ser ingênuo, acredita nas boas intenções das pessoas, é por isso que encara os erros como um resultado autêntico, afinal, como diz a sabedoria popular: “Só erra quem tenta, mas só tenta quem não tem medo de errar”.
Em busca da solução
Infelizmente, para muitas organizações e, por que não dizer, para muitos “propensos líderes”, parece que a coisa mais importante no momento do erro é achar o culpado e não efetivamente encontrar maneiras para evitar que o erro volte a ocorrer. A primeira palavra para essas organizações é “quem”, quando, na verdade, deveria ser “por quê”. Por que o erro aconteceu e não quem cometeu o erro. O momento do erro é o momento do apoio e não do rebaixamento moral. É o momento do estímulo ao desenvolvimento e ao crescimento e não à humilhação.
O líder visionário sabe que, quando alguém da sua equipe erra, ele deve trabalhar para recuperar sua autoestima. Menosprezar alguém que errou porque estava tentando fazer seu trabalho não trará reflexos negativos somente para essa pessoa, mas para toda a comunidade organizacional.
Jack Welch, o líder que fez da GE uma das maiores e mais admiradas empresas do mundo, eleito o executivo do século 20, nós dá uma lição sobre esse assunto ao afirmar: “Quando as pessoas cometem erros, a última coisa de que precisam é ação disciplinar. O momento é de encorajamento e de reforço da autoconfiança. A tarefa é restaurar a autoestima. Tripudiar sobre alguém que já está por baixo é a pior atitude possível”.
Para finalizar, o importante é ter em mente que o líder visionário deve criar uma atmosfera em que as pessoas podem respirar a essência da liberdade. Não estamos, obviamente, promovendo uma apologia ao conceito de que cada um pode fazer as coisas a seu bel prazer.
É claro que em toda organização há de haver um mínimo de direção e controle, papéis que o líder também precisa exercer. O que efetivamente estamos afirmando é que as pessoas precisam se sentir à vontade para que possam liberar seu maior potencial criativo. Elas precisam sentir que há espaço para o aprendizado, o crescimento e a realização. Agindo dessa forma, o líder visionário estará abrindo caminho para tornar sua organização sustentada e longeva.
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